A arte de ilustrar livros infantis

10 de novembro de 2018

Ilustrar um livro infantil é uma arte. A frase pode parecer um clichê, mas os ilustradores de livros, principalmente infantis, sabem que é a mais pura verdade. A ilustração em livros infantis é muito importante para dar à criança a dimensão da cena, daquilo que foi imaginado pelo autor, mas também há quem diga que por haver ilustração, o imaginário da criança pode ser frustrado – que é evidenciado pela frase: não foi bem assim que eu imaginei… E quem dá opinião sobre essa verdadeira arte são dois grandes ilustradores, Suppa e Maurício Negro.

O que dizem os ilustradores

SuppaPara a autora e ilustradora Suppa, para ser um bom livro, a ilustração não deve contar exatamente aquilo que está no texto. “O ideal, para mim, é quando a ilustração acrescenta detalhes ao texto, continuando-o, dando outro ângulo à cena que foi descrita e, até mesmo, mostrando aspectos importantes que o próprio texto não diz”, relata. “Considero muito importante ter o visual dos personagens idealizados. Chega a ser frustante quando não há ilustração”, ressalta.

Dentre as características que o ilustrador deve ter para ilustrar um livro infantil, Suppa releva, principalmente, a de não mostrar o óbvio. “Quando eu escrevo o livro eu ilustro ao mesmo tempo, já penso na ilustração e, assim, economizo o texto que pode ser contado na ilustração”, diz. “Basicamente, eu escrevo e a ilustração continua o texto”.

A autora explica que a arte visual, por si só, mexe com os sentidos e os sentimentos. “É mágico para as crianças ficarem tentando imaginar como aquilo surgiu, além de aguçar a imaginação, pois é como se decifrassem um texto subjetivo. E também motiva muitas crianças a desenhar”, relata.

Nas palestras que ministra, a autora confessa que o entusiasmo das crianças a contagia. “Eles comentam que sou criadora das imagens e tem até criança que questiona se existo mesmo e essa sensação é muito gratificante”.

Já o também autor e ilustrador, Maurício Negro declara que tudo pode acontecer porque um artista é diferente do outro e o gosto dos leitores também se diferenciam. “Se a ilustração for ruim, o livro e o leitor saem perdendo. Por outro lado, textos fracos podem ganhar dimensões quando acompanhados de ilustrações inspiradas. Se um texto de qualidade prescinde de imagens, então caberá ao ilustrador trazer uma abordagem suplementar”, explica. Ainda de acordo com ele, uma ilustração pode, realmente, não corresponder a uma expectativa particular, mas pode agradar a outros. “Os gostos são muito particulares, tanto para a arte, quanto para a vida e ter isso em mente é essencial. Enquanto criança espera-se das ilustrações sentido, inspiração e movimento”.

mauricio negroMaurício destaca que o ideal é fazer com que o texto e as ilustrações harmonizem-se como se fosse, de fato, uma canção. “A letra corresponde ao texto e a melodia, às imagens. Gosto muito desse paralelo, que sintetiza um objeto artístico que no exterior costumam chamar de picture books. Pois através deles a ilustração alcança o mesmo status da palavra.” O autor destaca, ainda, que é preciso ter cuidado com o senso comum. “É preciso escapar do senso comum. Um livro bom costuma nos encantar, e são muitos os recursos para isso. Às vezes se dá apenas com palavras. Outras, com uma combinação entre ambas. E em alguns livros há uma intimidade indissociável entre as palavras e as imagens”, ressalta.

Para conseguir um bom resultado ao ilustrar uma obra, são necessárias algumas características. Maurício relata que, acima de tudo, é necessário haver vocação; honestidade; liberdade; abertura; e coragem. “Se faltar algum desses ingredientes, fica mais difícil. É possível até agradar os leitores mais afoitos, mas o público leitor infantil é franco, crítico e livre de condicionamentos”, enfatiza. “Fazer força para agradar, encaixar-se nos modelos consagrados, dar respostas prontas e outros recursos são artifícios que costumam funcionar melhor com o público adulto.”

Maurício explica que o artista que se dedica a ilustrar livros, em geral, preserva uma centelha da infância e sabe que premeditar nada tem a ver com o que faz. “Outras características presentes nesse artista são que ele acessa sua memória afetiva, gosta de compartilhar e ambiciona ser espontâneo e legítimo como as crianças”, reflete.

Com relação às técnicas que utiliza, Maurício relata que gosta de se arriscar e usa o texto como estímulo para a escolha de suporte e recursos na hora da ilustração. “Tenho ilustrado diversos livros de temáticas relacionadas à natureza, às raízes ancestrais ameríndias, africanas e afro-brasileiras, de povos de culturas circulares, expressões populares etc.” Em função disso, o autor organizou um arsenal de recursos alternativos como: pigmentos naturais, material reaproveitado, folhas, argila, penas, cascas de árvore, sementes, entre outros materiais. “Faço monotipias, pirogravuras, desenhos e colagens. Em alguns casos, gosto de combinar recursos digitais com analógicos ou orgânicos. Adoro também material mais tosco, como pincel velho, canetas usadas, lápis de marceneiro ou maçarico. O acaso e as imperfeições são estimulantes para mim”, relata.

Quando se trata em pensar no perfil do público antes de realizar a ilustração, Maurício diz que logo tenta esquecer: “Acho um equívoco reduzir qualquer um a um modelo abstrato, impreciso e massificado. Sempre tive acesso a praticamente todo tipo de livro desde criança e tenho feito o mesmo com a minha filha, que tem dois anos. Não podemos restringir a ilustração à faixa etária”, explica.

Para ele, quanto mais cedo as crianças puderem lidar com estímulos positivos melhor será. Durante anos, de maneira equivocada, o modelo mais consagrado em nossa sociedade não deu a devida atenção à primeira infância. A neurociência, contudo, tem demonstrado que o cérebro infantil – especialmente até cerca de seis anos – é extremamente complexo e receptivo a todo tipo de influência. “Isso significa que logo nos primeiros anos de vida delineamos uma personalidade, pois todo estímulo será essencial. O mundo é recheado de imagens, signos, símbolos, sinais e índices de toda ordem e intenção. Um livro ilustrado contém esse código e dá ao jovem leitor uma oportunidade de jogar o jogo, tão importante quanto brincar”. E finaliza: “O livro ilustrado é uma bela ferramenta para esse exercício. Durante anos resistiu também o velho modelo, segundo o qual o texto teria mais relevância do que a imagem a partir de certa faixa etária. Hoje essa hierarquia tem sido naturalmente balanceada pelos próprios leitores e cidadãos”.

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Promova a leitura em casa

Jargões do tipo que definem os leitores de hoje como o futuro de amanhã são cada vez mais comuns e não é por acaso. A leitura abre portas para o conhecimento e para o imaginário e quanto mais cedo for esta prática, melhor. É por isso que a temática “leitura na infância” deve ser abordada com extrema cautela.

Especializada em livros destinados à educação infantil, a Gaudí Editorial trabalha com obras que promovem o desenvolvimento linguístico, cognitivo e afetivo, imprescindíveis na primeira infância, estimulando a criatividade e a atividade psicomotora.

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